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Preto no branco: racismo e autoestima

Atualizado: 1 de fev. de 2021



Com esta nova onda a respeito dos últimos acontecimentos nos EUA e no Brasil que norteiam violência à comunidades e o racismo estrutural praticados há anos, algumas reflexões a respeito do tema afloraram. Os pensamentos me fizeram retornar a momentos da minha infância e adolescência em que vivenciei, na época sem saber, situações de racismo e preconceito na escola. A dificulade de aceitação dos meus traços e cabelos crespos por consequência dos comentários racistas e das "brincadeiras" feitas por colegas na escola. E também, a falta de apoio ou acolhimento de professores e adultos que sabiam o que havia mas, considerava ser só amis uma brincadeira entre crianças. As brincadeiras, minavam a minha auto estima e me fizeram me sentir feia durante alguns anos.

Passei a usar químicas pra relaxamento dos fios por volta dos onze ou doze anos. Fui em busca do alisamento do cabelo porque escutei, algumas vezes, durante a minha infância o quanto o meu cabelo era difícil de cuidar. Na adolescência diziam que era um cabelo feio, um cabelo ruim e o comparavam a uma esponja de aço. Várias vezes escutei "olha o cabelo de BOMBRIL", entre outras coisas.

Eu cresci acreditando que era feia e que havia sido amaldiçoada ao nascer com um cabelo crespo, uma vez que o meu irmão biológico, tinha o cabelo cacheado e sedoso, que todos elogiavam. Por não ter referência na família, entendia que havia algo de errado comigo e para não mais me sentir tão machucada e feia, passei a alisar o cabelo achando que seria mais bem acolhida e me sentiria melhor.

Eu passei a alisar o cabelo muito nova. Um sofrimento por horas e um cheiro forte me traziam a ideia de que os cabelos ficariam lisos e que logo, seria percebida como sendo bonita também. Ledo engano, com o passar dos meses o cabelo ia enfraquecendo, quebrando, mudando a cor. E eu, novamente voltava a me sentir um patinho feio e sofria rejeições na escola. Me recordo de uma cena em frente ao espelho, ainda adolescente, em que eu chorei muito e puxava os cabelos da cabeça na tentativa de arrancá-los. A MALDADE das pessoas, faz isso. O RACISMO faz isso.

Lembro da minha mãe, por vezes, subindo o morro de algumas periferias de Belo Horizonte indo em busca de ajuda. Em busca de alguma trançadeira que pudesse dar um jeito nas madeixas. Acho que por um lado, ela também sofria. Quando adulta, passei a escolher estar em espaços que fomentam cultura. Teatros, exposições, feiras culturais, apresentações de dança africana entre outras coisas. Foi aí, que comecei a me achar no meio daquele público. Sempre haviam mulheres e homens negros, seguros e com os seus cabelos naturais que os deixavam ainda mais bonitos. Nesta época, comecei a entender que a questão, era mesmo o olhar dos outros e não o nosso cabelo crespo. Depois de mais alguns anos, passei a entender que estava me distanciando da minha essência e da minha ancestralidade. Longe de quem eu realmente era. O fato é que demorei a descobrir isto. Mas, mesmo com a demora, consegui recuperar a minha auto estima e ver beleza em mim, nos meus traços físicos e cabelos. Infelizmente, só depois de adulta entendi que somos o que somos e temos o nosso valor. Ter vivido tudo o que vivi, me fez entender que ninguém nesse mundo pode nos dizer o que somos ou o que temos que fazer. Hoje tenho uma filha linda com o cabelo parecido com o meu e desde já, ensino a ela o quanto é importante se cuidar e amar quem ela é. E que para além do RACISMO e PRECONCEITO alheios, há o amor próprio e a referência positiva que me tornei também para ela.

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